Homenagem ao Mestre Primo
Para mim, a última sessão da Mostra CineAfroBH, realizada em homenagem ao Mestre Primo, tem máxima importância. Eu tenho uma ligação especial com a região leste de Belo Horizonte, endereço do Grupo Iuna de Capoeira Angola desde 1983, ano de meu nascimento.
Conheço-a intimamente desde a infância, vivida no Esplanada e no Pompéia, e até então as experiências de ter morado no Horto/Santa Tereza e trabalhado como afroeducador no Taquaril são, certamente, aquelas que levarei dentro do peito pela vida inteira. Amo o Alto Vera Cruz! E sempre faço em minha lembrança a retomada da memória de meu pai, o Taché, ali materializado em Saudade.
A Mostra CineAfroBH foi agitada. Havia muito o que se captar. Experiências artísticas diversas misturaram-se a exibição de filmes. A presença da equipe da Atos Central de Imagens, das/dos coordenadores e jovens musicistas e músicos do Iuna e de alguns membros da comunidade Roots Ativa fez, entre os primeiros e os últimos momentos, criar-se uma espécie de verdade, valor e resistência. Mães, pais, amigas e amigos de toda vizinhança cantaram as canções que cobriam e coloriam a chegada da noite do sábado, 9 de maio de 2015.
Vocês não podem deixar de ir visitar o ponto de cultura. A ONG é uma base de trabalhos sociais, basta vê-la. O Mestre Primo já fez muito pela preservação da capoeira enquanto Patrimônio Cultural da Humanidade e não recua quando se trata de promover o equilíbrio. Contrário ao egoísmo que muito explode em meio a juventude contemporânea, o Mestre Primo atira ao mundo ensinos libertários. Seus posicionamentos tomam o lugar das críticas resolutivas.
A sede do Grupo Iuna, casa de sua família, está aberta a toda a comunidade. Seu caráter é coletivo. Ali comem e estudam todas as crianças que acessam os projetos, resultantes da luta política e do ativismo sociocultural de nossos Mestres Angoleiros, heróis de nossa gente. Em relação ao que fica da Mostra CineAfroBH, nesse tempo de “corte”, vale dizer da emoção em poder fazer parte da realização de uma mostra cinematográfica cheia de sensibilidade e beleza.
Propor, de uma maneira direta, algo que não seja fechado, nem lembre o aprisionamento e a censura dos valores culturais populares já é, posso dizer, a ruptura com muitos osbstáculos na democratização, efetivação e realização, em Minas Gerais, dos Direitos Universais da Humanidade.
Axé!
9 de maio de 2015